sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A fé da minha infância

Pe. Zezinho - SCJ
A lembrança mais remota que tenho em minha mente é de minha mãe fazendo um curativo em meu cotovelo, certamente fruto de alguma travessura, enquanto me ensinava a rezar o “Santo Anjo”. Eu não devia ter mais do que três anos... Daí para frente tive minha fé alimentada por minha mãe e pelas canções que falam das coisas de Deus, sobretudo a música do Padre Zezinho...


Quem de nós, trintões católicos não teve a infância e a juventude embalada pela música deste que foi um dos primeiros sacerdotes cantores do Brasil?... Padre Zezinho SCJ, resiste ao tempo, aos modismos, ao fogo de palha... Depois dele vieram muitos que tiveram um surto de fama, aparecendo em todos os canais de TV aberta e, do nada, desapareceram... Deixaram de ser notícia, deixaram de interessar para “a poderosa do Plim! Plim!”...

Ele porém, não é uma estrela pop, não se rende aos interesses capitalistas das grandes redes de mídia e das gravadoras... É um servo de Deus, canta para evangelizar. Seu encontro com o público é muito bem fundamentado, traz conselhos que nos ajudam a manter os valores mais sublimes, inclusive a família, espécie em extinção na contemporaneidade... Vendo alguns trechos de seus shows na Internet, percebe-se que não existe apenas “Glória e Aleluia”, não vemos só mãos erguidas batendo palmas e louvando o Senhor... Claro que Louvar o Criador é importante para nós, criaturas humanas e limitadas, porém se estas canções não nos levarem à ação, de nada adianta o louvor sem obras que ajudem a melhorar a vida de nossos semelhantes...

Cresci ouvindo a “Utopia” de uma família muito distante da minha realidade, mas como toda utopia, ainda tenho esperança de ser o progenitor de  uma delas... Vi minha mãe chorar cada vez que ouvia “Maria de minha infância” lembrando de minha avó que morreu aos cinquenta e oito anos. Mamãe viveu dez anos a mais, hoje eu ou ouço a mesma canção e sinto a mesma saudade... Sentimentos que nunca se esquece e que nos dão forças para continuar, embalados por canções que nos fazem crescer e amadurecer na fé e nas atitudes, tornando o mundo ao nosso redor muito mais fraterno... Mas não bastam as palavras bonitas, é necessário que elas provoquem reações que levam a ações concretas para nós e para nossos irmãos...

No mundo conturbado em que vivemos, parece fácil ficar algumas horas por semana cantando e louvando ao Senhor, fazendo calo na língua e nos joelhos de tanto orar, tentando “converter” aqueles que acreditamos estarem desviados, desrespeitando o livre arbítrio enquanto o próprio Deus o respeita... É muito cômodo acreditarmos numa salvação imediata, nos milagres que muitas vezes não são tão reais quanto parecem, dando a ilusão de que nada depende de nosso esforço, Deus faz tudo por nós...

Outro dia assisti na TV a um programa de uma igreja qualquer que divulgava testemunhos de alguns fiéis. Todos diziam ter enriquecido depois de se converterem para aquela “placa”. A vida era uma droga, entregue ao álcool e outros vícios e, de repente, tudo se transforma e conseguem ter dinheiro sobrando... Ora, o que sobra para uns, faz falta para outros... A fé que aprendi desde a minha infância não consegue acreditar numa religião que prega a exploração do homem pelo homem, onde seus fiéis se regozijam mostrando carros novos e casas luxuosas, adquiridas depois da conversão, enquanto muitos de seus semelhantes permanecem na mais lastimável e desassistida miséria... Estou certo de que não podemos generalizar, pois na sua maioria, as Igrejas Cristãs fazem também seu trabalho de educação para a cidadania além do louvor, porém aquelas de fundo de quintal, continuam a explorar os fiéis enchendo de “graças” a conta bancária de poucos...

Escrito por: Márcio Roberto Goes - marciogrm@yahoo.com.br

Professor de Língua Portuguesa, língua Espanhola e suas respectivas literaturas, efetivo na rede estadual de ensino de Santa Catarina, graduado em Letras pela Unc, antigo campus de Caçador e especialista em análise e produção textual pela FAVEST. Escritor, palestrante, diretor artístico e locutor da Web rádio Ativa Caçador. Membro da Academia Caçadorense de Letras e Artes.

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