sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Consumismo às avessas


Férias... Sem pressa... Sem estresse... A vida fica mais lenta e, de certa forma, agradável durante as férias...

                Usufruindo de meu direito de ir e vir, andava eu despreocupado pelas ruas da cidade, olhando vitrines, parando para conversar com conhecidos e amigos, enfim, andava à toa... Chutando lata.. Sem pressa nem medo de ser feliz...

                Resolvi entrar numa loja de eletros que, nesta época do ano faz seu torra-torra tradicional para desentocar os produtos antigos a fim de encher de coisas novas para manter viva a obsolescência que tanto move o capitalismo selvagem, desumano e consumista do século vinte e um...

                Olhei alguns computadores, já que o meu está com uma tecla impossibilitada de cumprir perfeitamente seu papel nos textos, passeava pela loja até que parei no balcão dos celulares... Enquanto olhava alguns, percebi que a balconista era uma ex-aluna... Conversamos um pouco sobre como anda a vida, os projetos, se ela está fazendo faculdade, ou pretende em breve, enfim, assuntos inerentes a ex-professor e ex-aluna..

                Pedi para ver celulares que eu pudesse usar com dois chips... Olhei alguns, gostei de um que tem toque na tela, mil e não sei quantos aplicativos e tals... Aí mostrei meu pré-histórico de 2009 que guardava no estojinho de couro preso à cinta:

- Acho que já está na hora de trocar o meu, né?
- Não professor! Nem troque... Esse teu celular aí é bem melhor que estes que vendemos... A durabilidade dele é muito maior e a bateria segura carga muito mais tempo...
- Isso é verdade. Não me queixo da bateria e da qualidade do meu celular...

                Me despedi em seguida e continuei minha caminhada urbana... Mas meu cérebro insistia em me fazer pensar naquele fato e analisá-lo dentro de minha ideologia... Todo mundo sabe o que penso do capitalismo desumano, consumista, imperialista e ditador que manda no mundo moderno... Também, sabem do amor que sinto pelo comércio que explora o consumidor, fazendo-o comprar o que não precisa, com uma frequência cada vez maior, para manter viva a obsolescência que enriquece, cada vez mais quem já é rico, dá poder aos que já são poderosos e ilude os já iludidos e marginalizados pelo sistema de exploração do ser humano pelo próprio ser humano...

                Minha ex-aluna, por certo deve ter quebrado uma regra muito importante do comércio: Convencer o cliente que ele precisa do produto... Ela foi extremamente sincera comigo, o que muito me orgulha, pois de alguma forma, fiz parte da formação dela enquanto cidadã... Porém, se o seu chefe souber disso, certamente será repreendida, pois está na contra-mão da empresa que paga o seu salário para ela vender...


                Infelizmente, isso é uma exceção na vida real, pois a cada loja que entramos, existirá alguém disposto a nos provar que precisamos de algo novo, mesmo que as coisas consideradas velhas que temos, ainda tenham serventia... Minha querida aluna, me deu uma lição que , como outras, vou levar por toda a vida: Mesmo no meio do pântano podre, é possível ser um lírio e florescer a beleza da vida que não precisa de coisas novas a todo momento para acontecer de forma feliz...

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